domingo, 18 de maio de 2014

Knickstória: A Falta Fantasma



Dando sequência nos playoffs de 1994, seguimos na série semifinal contra os Bulls.


Depois de um nervoso terceiro jogo em Chicago com direito a briga na primeira fila das arquibancadas, uma reação incrível dos Knicks e uma cesta ainda mais incrível de Toni Kukoc, os Knicks não contaram com o seu armador Derek Harper para o quarto jogo e perderam por 95 a 83 e da mesma maneira que um ano antes a série estava empatada.


A série volta para Nova York e os Knicks começaram a partida com tudo, abrindo 11 pontos de vantagem, Patrick Ewing converteu seus primeiros seis arremessos e teve 14 pontos, a torcida estava muito empolgada, mas os Bulls tiveram sangue frio e viraram o jogo ainda no primeiro quarto.

Os Bulls mantiveram o domínio na primeira metade do segundo quarto, Ewing não acertava mais nenhum arremesso, mas então os Knicks, liderados por Charles Smith com 10 pontos no período, encostaram no placar, acordando a torcida.

Nos últimos quatro minutos e meio do primeiro tempo os Bulls não marcaram e os Knicks, com oito pontos seguidos, perdiam por apenas um ponto no intervalo.

No terceiro quarto o equilíbrio continuou, os Knicks chegaram a abrir seis pontos na frente, mas Chicago diminuiu para apenas dois pontos ao final do quarto.

No último período os Knicks iam se mantendo na frente do placar, mas a partida não estava ganha, a um minuto e meio para o fim Scottie Pippen converte dois lances livres para diminuir a vantagem dos Knicks para apenas um ponto, 85 a 84.

Na posse do Knicks, Starks tenta um arremesso com um péssimo ângulo de visão e a bola volta para os Bulls a pouco mais de um minuto para o fim. B.J. Armstrong converte um difícil arremesso para dar a liderança ao Bulls pela primeira vez desde o terceiro quarto.

Os Knicks pedem tempo. De volta à quadra, Ewing sofre falta de Bill Cartwright, mas ele erra os dois lances livres e os Bulls têm a chance de abrir três ou quatro pontos de vantagem.

Nesse ponto todos se lembram do ano anterior, mesma situação: Knicks com mando de quadra contra os Bulls, venceram as duas primeiras partidas no Garden, perderam as duas seguintes em Chicago e de volta a Nova York tiveram uma das derrotas de playoff mais dolorosas da história da franquia.

A torcida gritava “defesa”, Chicago parte para o ataque, a bola vai para Pippen, ele passa para Armstrong que arremessa de três e erra, o rebote fica com Mason, os Knicks pedem tempo a 7,6 segundos do fim.

Última posse dos Knicks no jogo, em quadra Riley coloca Greg Anthony, John Starks, Hubert Davis, Charles Oakley e Patrick Ewing.

Oakley repõe a bola para Starks, ele passa pelo corta-luz de Ewing e parte para o lado direito com o pivô dos Knicks acompanhando, a jogada era semelhante à famosa enterrada de Starks um anos antes, mas desta vez a ajuda da defesa dos Bulls chegou a tempo de impedir a infiltração do armador dos Knicks.

Sem ter para onde ir, Starks passa para Davis que está livre em frente a cesta com o pé direito dentro da linha de três pontos. Ele arremessa, Pippen chega atrasado para o bloqueio, o arremesso de não cai, parecia que o jogo 5 de 1993 iria se repetir com Chicago virando a série, mas o arbitro Hue Hollins apita uma falta do jogador dos Bulls a 2,1 segundos do fim.


“Quando ouvi o apito, eu pensei ‘O que aconteceu? Quem cometeu a falta?’”, Pippen relembra ao site da ESPN em 2009. “Eu não acho que fiz uma falta.”


Hubert Davis relembra no livro “Garden Glory”:
“Eu não era primeira opção. Obviamente a jogada era para Ewing. Mas demos a oportunidade para John infiltrar, uma oportunidade para ele fazer algo acontecer. Então ele infiltrou e todos se perderam. Antes de voltarmos para a quadra Greg Anthony disse, ‘Hubert, se você tiver a chance, você terá que arremessar.’ Então John jogou a bola para mim e eu estava livre.Scottie me acertou no braço. Ele me acertou um pouco, logo após o arremesso. Não lembro qual arbitrou apitou, mas eu aceito. Foi uma falta sem dúvida. Muitas pessoas dizem que foi após a jogada, mas fico feliz que marcaram a falta.”

A torcida vibra, jogadores e treinadores dos Bulls ficam indignados, mas Davis vai para os lances livres. Ele converte o primeiro. Jogo empatado, Phil Jackson pede tempo. Ele converte o segundo. Knicks na frente por um ponto. Jackson pede seu penúltimo tempo.

Na reposição dos Bulls, a jogada era para ser uma ponte aérea para Pippen, mas o passe foi interceptado por Mason e a bola acabou nas mãos de Starks e o Knicks escapou com uma vitória.

Final: Knicks 87, Bulls 86.


Patrick Ewing terminou com 20 pontos e 13 rebotes, Charles Smith teve 16 pontos, Oakley terminou com 14 pontos e 13 rebotes e John Starks marcou 13 pontos.

Pelos Bulls, Scottie Pippen foi o cestinha da partida com 23 pontos, Armstrong terminou com 21 pontos.

A falta marcada por Hue Hollins é considerada uma das mais controversas, alguns consideram uma das piores marcações da história dos esportes, mas Hollins, falando ao site da ESPN, não se arrepende da sua decisão:
“Eu não entendo. Trabalhei na NBA por 27 anos e tive um recorde exemplar como um dos principais árbitros da NBA. As pessoas insistem em falar em uma marcação. Por quê? Era o quinto jogo de uma série melhor de sete. Foi um jogo, uma marcação. Se Scottie não fizesse a falta, eu não teria marcado.
Árbitros marcam muitas faltas no decorrer de uma partida. Erramos algumas? Sim, às vezes. Mas o porcentual de acerto é de 96%.”

Phil Jackson não aceita que foi uma falta, para ele que o contato aconteceu após o arremesso e deveria ser ignorado.

Jeff Van Gundy, assistente de Pat Riley em 1994, deu seu ponto de vista sobre o ocorrido em “Garden Glory”:
“A jogada era para ser um ‘post up’ com Ewing. Colocamos a bola em jogo, e Hubert arremessou. Foi uma falta? Não. Tivemos uma marcação que nos beneficiou. Agora deveria ser uma falta? Sim. Porque eu não acho que você deva interromper um arremessador com contato. E com certeza houve contato. Mas da maneira que foi marcada, eu sei que se os papeis fossem invertidos nós ficaríamos ultrajados com a marcação. No ano anterior todos falavam sobre Charles Smith errando. Sim, ele errou. Mas sim, ele sofreu falta também. Então o último time que deveria reclamar sobre uma marcação duvidosa em final de jogo são os Bulls. Porque grande parte da dinastia deles foi construída em apitos amigos em momentos críticos ou faltas que não eram marcadas.”

A marcação de Hollins ficou conhecida como “the phantom foul”, ou “a falta fantasma”. Phil Jackson não guarda mágoa de Hue Hollins, mas reconhece que em 1994 foi doloroso.

Torcedores dos Bulls até hoje não esquecem da marcação, conforme Davis contou em “Garden Glory”:
“Quando estou em Chicago, ainda não me suportam. Eles acham que eu arruinei a temporada deles. Sinto muito pelos Bulls. Mas ei...”
Informações obtidas do site da ESPN e do livro: “Garden Glory: An Oral History of the New York Knicks” de Dennis D'Agostino.

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