Knickstória: A Regra Trent Tucker

Conforme pode ser lido neste post, desde 1987 os Knicks têm uma tradição de grandes partidas no feriado de Martin Luther King no Madison Square Garden, mas uma partida merece um post próprio pelo impacto que causou na NBA.

Na tarde de segunda-feira, dia 15 de janeiro de 1990, o New York Knicks recebia o Chicago Bulls para uma matinê no feriado de Martin Luther King.

Era a primeira vez que os dois times de enfrentavam desde a série semifinal dos playoffs de 1989, onde o sKnicks, mesmo com mando de quadra, foram eliminado pelos Bulls em seis jogos.

Os dois times estavam com treinadores estreantes, Stu Jackson pelos Knicks, substituindo Rik Pitino que retornou ao basquete universitário e Phil Jackson pelos Bulls, substituindo Doug Collins.

New York tinha 25 vitórias e 10 derrotas, enquanto Chicago chegava ao Garden com 23 vitórias e 12 derrotas.

A partida foi muito equilibrada e o placar estava empatado em 106 no último minuto, Chicago tinha a posse de bola e Michael Jordan arremessou de três, mas errou e Charles Oakley ficou com o rebote a 4,6 segundos.

Stu Jackson pediu tempo e mandou Rod Strickland e Trent Tucker, excelentes arremessadores de três pontos, para a quadra. Isso possibilitou que o armador Mark Jackson pudesse trabalhar para fazer seu arremesso ou passar para Patrick Ewing.

Mas Jackson não conseguiu executar a jogada porque Scottie Pippen fez uma falta no armador a 0,1 segundos para o final. Os Bulls podiam fazer uma falta sem que o Knicks precisasse ir aos lances livres.

Na temporada 1989-90 a NBA incorporou o uso de décimos de segundo no minuto final dos quartos, prática já utilizada pela FIBA. Se você pesquisar poderá notar que jogos de temporadas anteriores os relógios contavam apenas os segundos.

Stu pede um tempo de 20 segundos. Phil Jackson, pela primeira vez enfrentando seu antigo time, esquematizou uma defesa que impedisse uma ponte aérea para Ewing no garrafão.

Mark Jackson ficou com a função de repor a bola em jogo, Trent Tucker conta como foi a jogada para Dennis D’Agostino no livro “Garden Glory”:

“Eu era uma distração para trazer Michael Jordan para longe da cesta. Assim Mark faria uma ponte aérea para Patrick abaixo para ele dar um tapa para a cesta. Mas Michael leu a jogada, então ele voltou e tirou o ângulo de visão de Patrick. Eu vi Mark parado fora da quadra com a bola e a contagem de cinco segundos ia começar.”

“Então eu segui pela lateral em frente ao nosso banco para ele passar para mim. Eu sabia que não tinha muito tempo, então eu me virei e me movimentei rápido, e a bola passou pelos braços de Scottie Pippen estendidos, por pouco. E a bola ficou no ar por tanto tempo, Johnny Newman estava em pé atrás de mim disse ‘Trent, essa bola parece boa’. Nós tivemos uma chance de ter uma conversa porque a bola estava tão alta e eu disse, ‘News, está no ponto.’ Quando ela entrou, nós corremos da quadra direto para os chuveiros. Queríamos ter certeza que o Bulls não tivesse chance de reclamar da jogada.”

Placar final: Knicks 109, Bulls 106.

Após a partida, Phil Jackson declarou que era impossível alguém pegar a bola e arremessar em apenas um décimo de segundo (ao contrário do que Al Trautwig disse na transmissão do MSG Network após a jogada) e disse que os árbitros estavam se adaptando aos décimos de segundo e o que aconteceu com os Knicks foi um “apito amigo”.

Mas não ficou somente nisso, dois dias após a partida, o Chicago Bulls entrou com uma reclamação junto à NBA, alegando que o árbitro, Ronnie Nunn, que validou a cesta, cometeu um erro. Após estudar a jogada, dirigentes dos Bulls alegaram que a jogada levou dois segundos para ser executada.

A NBA levou duas semanas para revisar, analisar e debater a jogada. Apenas Rob Thorn, presidente de operações da liga, foi favorável ao Bulls (Observação: Thorn foi GM do Bulls nos anos 80).

A liga negou o protesto de Chicago e manteve o resultado da partida. David Stern divulgou um comunicado:

“A questão para mim não é se Trent Tucker recebeu o passe de Mark Jackson e fez o arremesso em menos de um décimo de segundo. Claramente ele não fez. A questão apresentada na reclamação de Chicago se refere à falha da arbitragem em não validar o arremesso de Tucker uma base suficiente para mudar o resultado de uma partida. A NBA nega de forma consistente reclamações baseadas em erros de julgamento de arbitragem.”

No entanto foi depois desse jogo e do protesto do time de Chicago que a NBA adotou uma regra que começou a valer na temporada seguinte, 1990-91, na qual se o relógio marca menos de três décimos de segundo, qualquer arremesso que não fosse uma ponte aérea ou um tapa para a cesta não seria contado.

Mais de 26 anos mais tarde, a regra que ficou como conhecida como “Trent Tucker Rule”, foi posta à prova, coincidência ou não em uma partida no Madison Square Garden.

No dia 20 de dezembro de 2006 os Knicks recebiam o Charlotte Bobcats e a partida estava empatada, 109 a 109 com apenas um décimo no cronômetro na segunda prorrogação.

Jamal Crawford fez a reposição da bola, David Lee e Eddie Curry estavam na cabeça do garrafão. A estratégia de Isiah Thomas, treinador dos Knicks na época, era enganar a defesa de Charlotte pensando que a bola iria para Curry, mas na verdade, quem partiu para a cesta foi Lee que conseguiu executar a ponte aérea perfeitamente.

Com o “tapinha” de David Lee os Knicks conseguiam a vitória, 111 a 109.

Foi a primeira vez desde que a Regra Trent Tucker foi implementada que um jogador marcou uma cesta a menos de três décimos para o fim.

Nas primeiras filas do Garden, três jogadores que jogaram na partida que originou a regra: Patrick Ewing, Charles Oakley e Michael Jordan, que havia recém se tornado diretor de operações de basquete dos Bobcats.

Assim, Jordan perdeu duas vezes para o Knicks com apenas um décimo de segundo.

Informações obtidas dos livros: “New York Knicks: The Complete Illustrated History”, “100 Things Knicks Fans Should Know & Do Before They Die”, ambos de Alan Hahn e “Garden Glory: An Oral History of the New York Knicks” de Dennis D'Agostino.