Quando a Basketball Association of America surgiu
em 1946, a liga era formada por jogadores brancos, enquanto que a liga rival, a
National Basketball League já possuía jogadores negros em seus elencos.
Na temporada 1942-43 times como o Toledo Jim White
Chevrolets e o Chicago Studebakers já tinham diversos jogadores negros, cinco
anos antes do Brooklyn Dodgers quebrar a barreira racial no baseball contratando
Jackie Robinson.
As decisões no entanto não tinham nada a ver com
quebrar barreiras, as duas franquias procuravam jogadores porque a maior parte
de seus elencos estava lutando na Segunda Guerra Mundial. Toledo somente durou
uma semana na temporada e foi descontinuado e os Studebakers utilizaram
jogadores do famoso time Harlem Globetrotters.
Na temporada 1948-49 a NBL convidou o conhecido
time New York Rens, composto por jogadores negros, a participar da liga. Eles saíram
do Harlem e passaram a jogar em Dayton, Ohio, e passaram a se chamar Dayton
Rens.
Um ano depois a BAA tomou o controle da NBL,
tornando-se a National Basketball Association, mas os Rens não foram absorvidos
e a liga permaneceu sem jogadores negros.
Era uma questão de tempo para que a nova NBA contasse com jogadores negros, mas
os donos dos 11 times que formavam a liga resistiam à mudança, eles achavam que
iria arruinar a liga.
O treinador dos Knicks na época, Joe Lapchick
sempre foi a favor da igualdade e dos direitos humanos desde os tempos que
jogava pelo Original Celtics, e ameaçou se demitir caso a liga siga proibindo a
contratação de jogadores negros.
Clifton e o treinador dos Knicks Joe Lapchick |
Diz a lenda que Ned Irish, sabendo da possível saída de Lapchick, disse que iria retirar os Knicks da NBA. Os donos votaram e por um voto, os times da NBA tinham permissão para contratar jogadores negros.
O primeiro time a selecionar um jogador negro foi o
Boston Celtics de Red Auerbach, escolhendo Chuck Cooper de Dusquene na segunda
rodada do Draft e o Washington Capitals escolheu Earl Loyd de West Viginia
State na nona rodada do Draft, ele foi a centésima escolha das 121 possíveis.
Ned Irish não ficaria de fora, ele fez um acordo
com Abe Saperstein para trazer um popular jogador do Harlem Globetrotters: um
ala de com grandes mãos chamado Nathaniel “Sweetwater” Clifton. Nascido no dia
13 de outubro de 1922, ele foi o primeiro jogador negro a assinar um contrato
com um time da NBA.
Ele tinha esse apelido porque desde jovem gostava
de bebidas doces.
Sparstein vendeu os direitos de Clifton por $ 12.500,00,
Clifton ficou com $ 2.500,00, naquela época não existia a “free agency”.
A carreira profissional de Sweetwater começou em 1945
com o New York Rens da NBL, mas ele se tornou famoso alguns anos depois com os
Globetrotters. O apelido foi encurtado para “Sweets” pelos seus colegas de
time.
O armador Ray Lumpp conta que ele e seus colegas de
time perguntavam a Nat se ele queria se juntar aos Knicks. Ele se lembra da
primeira vez que Sweetwater apareceu nos treinos dos Knicks:
“Ele era mais velho que a maioria dos jogadores; você não sabia qual era a idade dele. Estávamos treinando na NYU na época. Ned havia assinado um contrato com ele, mas por alguma razão ele não pareceu para treinar por um tempo. Então um dia ele apareceu na NYU. Joe soprou o apito e disse, ‘OK, vamos fazer pares.’ Então ele foi para Sweets e disse, ‘Sweets, onde você quer jogar?’ Joe nunca perguntava nada para nós, ele mandava. Você fica aqui, você fica ali. Mas com Sweets ele disse, ‘Onde você quer jogar?’”
Lloyd foi o primeiro negro a jogar uma partida da
NBA, quando os Capitals abriram a temporada no dia 31 de outubro de 1950, um
dia antes de Knicks e Celtics.
A estreia de Sweetwater foi no dia 4 de outubro de
1950 com 28 anos de idade. Clifton não tinha um bom arremesso, mas era
eficiente na defesa. Seus companheiros de time contavam que ele não conseguia
arremessar nada, mas sabia se posicionar embaixo da cesta. Lapchick avisava a
jogadores dos times adversários para não tocarem nele por causa do seu jogo
físico.
Clifton enfrenta o Rochester Royals em 1954 |
Leonard Lewin, jornalista que fazia cobertura dos
Knicks na época, perguntou a Sweetwater se ele não queria lutar boxe e se
ofereceu para ser seu empresário. Ele disse que arrumaria uma luta com Bob
Satterfield, campeão dos meio-pesados na época para iniciar a carreira como
boxeador. Ele respondeu, “Sabe de uma coisa? Quando eu era criança eu costumava
dar muitas surras em Satterfeild.”
Se na quadra ele era um lutador, fora dela, Clifton
era muito gentil e seus companheiros de time gostavam muito dele. Harry
Gallatin, lendário ala dos Knicks no início dos anos 50 conta que não havia
pessoa mais doce que Clifton, ele somente se tornaria agressivo se fosse
desafiado.
Gallatin e Clifton em foto promocional dos Knicks em 1950 |
Certa vez, em uma partida contra os Celtics, Bob
Brannum, um dos comandados de Auerbach, disse a Clifton durante a partida: “Eu
quero um pedaço teu.” Clifton respondeu, “Você não vai ter um pedaço de mim.
Você vai ter tudo de mim.”
Se entre os seus companheiros de time e a torcida
dos Knicks tudo parecia bem, quando as partidas eram fora de casa tudo mudava, Lumpp
conta:
“Tem duas cidade onde eu me sentia muito mal por Sweets. Quando fomos a Indianápolis, costumávamos ficar no Claypool Hotel. Sweets não tinha permissão para ficar lá; ele ficaria no bairro dos negros. Quando íamos a Baltimore, ficávamos no Lord Baltimore Hotel. Ele também não podia ficar lá. Ele tinha que ir para o outro lado da cidade. Sentíamos-nos muito mal quando saíamos do avião e então pegávamos um ônibus ou taxi para a cidade, e ele não podia ficar conosco. ‘Vejo vocês no jogo, ’ ele sempre dizia. Nunca o incomodou; era apenas um fato da vida na época. Mas todos se sentiam mal porque podíamos jogar juntos em quadra, mas não podíamos dormir (no mesmo local). Isso era errado. Tinha que ser arrumado e eventualmente foi.”
Leonard Koppet, outro jornalista que cobriu os
primeiros anos da NBA, conta que muitos dos problemas de racismo que Sweetwater
e seus companheiros de time vivenciaram no início dos anos 50 fora de casa não
eram percebidos pela imprensa.
Em sete temporadas pelos Knicks, Clifton teve
médias de 10 pontos e 8,2 rebotes por jogo. Na temporada 1956-57 ele foi
selecionado para o time All-Star. Sua melhor média de pontuação foi na
temporada 1954-55, 13,1 pontos por jogo. Ele teve médias de double-double nas temporadas 1951-52 (10,6
pontos e 11,8 rebotes por jogo) e 1952-53 (10,6 pontos e 10,9 rebotes por jogo).
Ele terminou a sua carreira com o Detroit Pistons, se aposentando após a temporada
1957-58 com 35 anos.
Nas suas primeiras temporadas em Nova York,
sweetwater e os Knicks foram para as Finais, na época chamadas de Championship Series, mas nas três vezes
não conseguiram o título.
Anos mais tarde, Clifton não guarda mágoas ou
rancor, somente boas memórias. Ele conta que todos o trataram muito bem.
Após o término da sua carreira, os Knicks tentaram
cuidar dele, o conglomerado Gulf & Western, predecessor da Viacom, ofereceu
um cargo para ele nos escritórios de Manhattan. Mas ele não queria morar em
Nova York, sua família toda estava em Chicago.
Ele manteve uma tradição pessoal. Nos anos 50,
jogadores não recebiam salários milionários e quando a temporada terminava,
Sweets dirigia um taxi pelas ruas de Chicago.
Clifiton morou na mesma casa que comprou em 1950
quando assinou um contrato com os Knicks. Ele morreu dentro do seu taxi no dia
31 de agosto de 1990, próximo à Union Station de Chicago.
Para preservar o seu legado, os Knicks criaram o
Prêmio Sweetwater Clifton, que é dado a nova iorquinos que fazem diferença na
vida de outras pessoas.
Em fevereiro de 2014 foi anunciado que Clifton
estava na classe de 2014 do Hall da Fama do basquete, se tornando mais um Knick
a ser imortalizado em Springfield.
Informações e fotos obtidas dos livros: “New York Knicks: The Complete Illustrated History” e “100 Things Knicks Fans Should Know & Do Before They Die” de Alan Hahn e “Garden Glory: An Oral History of the New York Knicks” de Dennis D'Agostino.
Informações e fotos obtidas dos livros: “New York Knicks: The Complete Illustrated History” e “100 Things Knicks Fans Should Know & Do Before They Die” de Alan Hahn e “Garden Glory: An Oral History of the New York Knicks” de Dennis D'Agostino.
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