Uma
vitória.
Uma vitória foi a diferença entre as campanhas de
Knicks e Rockets na temporada regular.
Por uma vitória, o time texano ficou com um mando
de quadra nas Finais.
Uma vitória era o que separava os Knicks do tão
sonhado título, título que não vinha desde 1973.
Depois de três partidas em Nova York, a série
retorna a Houston com os Knicks liderando por três a dois.
O armador Derek Harper conta que o voo para Houston
“não foi quieto, mas não foi barulhento também. Acho que todos entendiam a
importância do que tentávamos fazer. Era como um voo a trabalho. Todos seguiam
sua rotina habitual, mas ao mesmo tempo acho que todos sabiam o que estava em
jogo.”
Na noite de sábado para domingo, Dave Checketts, presidente
do time, tem um sonho:
“Eu não costumo lembrar dos meus sonhos, mas esse foi nítido. Estava no vestiário em Houston no meu sonho, com um casaco azul que usei por um tempo e estava tomando um banho de champanhe. Então eu me certifiquei que utilizaria esse casaco para o sexto jogo.”
“Descendo do ônibus, eu vi os caras com duas caixas de champanhe. E eu estou pensando que é isso. (...) Eu passei pela porta que dava em um grande corredor e perguntei o que era, disseram ‘É o champanhe.’ Eu respondi ‘What the fuck?’ (não precisa de tradução, certo?) – perdoe o meu francês. Então isso era para nós quando vencermos o campeonato. Ninguém no mundo poderia me dizer que não iríamos vencer o jogo.”
O responsável pelo champanhe foi o preparador
físico Mike Saunders, ele teve que ser criativo porque uma lei do Texas impedia
que ele levasse bebidas alcoólicas para uma arena.
“Tentei explicar que não ia levar para beber durante a partida, que era para uma celebração após o jogo, mas eles foram inflexíveis. Também trouxe champanhe sem álcool. Para quem não bebe também poder celebrar.
O que aconteceu foi que eu tive que dar o champanhe para o pessoal da arena e eles venderam de volta para mim, para ficar ‘oficial’. Tivemos que pagar uma taxa. Deixei em duas grandes bolsas de equipamentos.”
Enquanto isso, executivos dos Knicks se reuniam com
a executivos da NBA e da NBC para acertarem a logística para a apresentação do
troféu, ela seria em uma sala adjacente ao vestiário dos Knicks. O palanque,
bandeiras, câmeras estavam ajustados. Checketts, Grunfeld e Riley tinham seus
locais marcados no palanque para receber o troféu de David Stern.
Pat Riley estava focado em terminar a série na
sexta partida:
“Eu fiz questão de dizer a eles que não era para deixarem ir a uma sétima partida. Disse que a nossa chance de ganhar o título era agora. Finalmente chegamos ao jogo que permitiria você vencer o campeonato e não quero que você pense que é um presente. (…) Não deixe ir para a sétima partida porque tudo pode acontecer e geralmente o mando de quadra influencia.”
Vamos ao sexto jogo. Os Knicks abrem 15 a oito no primeiro quarto, mas os Rockets logo se recuperaram e passaram a frente no placar. No segundo quarto os Knicks marcaram apenas 15 pontos e no intervalo perdiam por 10 pontos.
No final do terceiro quarto a diferença caiu para
três pontos, mas os Rockets logo aumentaram para nove pontos, 72 a 63 a 9:18
para o final do último quarto.
A 3:18 para o fim, Kenny Smith converte um
arremesso de três pontos e o placar é 84 a 77 para Houston. Starks converteu
uma bandeja a 1:33 e diminui a diferença para cinco pontos. Em seguida ele
força um erro de Verno Maxwell e a posse é dos Knicks. Ele converte uma cesta
de três pontos a 1:17 e a diferença era de apenas dois pontos, 84 a 82.
Hakeem Olajuwon converteu dois lances livre para
colocar Houston quatro pontos na frente a 39,3 segundos. Na sequência, Anthony
Mason converteu um arremesso e o placar era 86 a 84 a 32 segundos.
No ataque dos Rockets, Kenny Smith erra e o rebote
fica com New York, tempo pedido a 7,6 segundos do fim.
Os Rockets não haviam ainda atingido o limite de
faltas pessoais no período e Robert Horry fez a falta logo na reposição de bola
dos Knicks com 5,5 segundos para terminar.
Na sequência, os Knicks fizeram a mesma jogada que
foi executada no sétimo jogo contra Indiana nas Finais de Conferência, pick-and-roll com Starks e Patrick Ewing.
Charles Oakley fez a reposição para Starks, que foi
para a esquerda e passou pelo corta-luz de Ewing, deixando Maxwell para trás.
Olajuwon, que estava com Ewing decide ir para linha de três pontos, deixando o
pivô dos Knicks sem marcação na linha de lances livres.
Starks seguiu para a esquerda com Olajuwon
marcando, mas ao contrário da partida contra os Pacers duas semanas antes, ele
decide arremessar dali mesmo, em frente ao trienador Rudy Tomjanovich, e assim
dar o título aos Knicks.
Mas por pouco, muito pouco, Olajuwon conseguiu
interferir no arremesso e a bola acabou nas mãos de Otis Thorpe.
O cronômetro zerou e os Rockets venceram. 86 a 84.
Série empatada.
John Starks terminou com 27 pontos, 15 nos últimos
9:11 do último quarto, 9-18 arremessos de quadra convertidos, 5-9 de três
pontos e oito assistências, carregou o time nas costas, foram 5-7 arremessos
convertidos no último quarto, 3-4 de três pontos, o que único que ele não
acertou foi por causa de Olajuwon.
Ewing, depois do excelente quinto jogo, teve uma
péssima partida no ataque, acertando 6-20 arremessos, 17 pontos, mas compensou
com 15 rebotes e quatro bloqueios. Oakley teve 12 pontos e nove rebotes, Smith
terminou com 11 pontos e Harper teve 10 pontos e 10 assistências.
Olajuwon terminou com 30 pontos, 10 rebotes e
quatro bloqueios, incluindo o que garantiu a vitória dos Rockets. Horry
terminou com 11 pontos e nove rebotes, Maxwell teve 10 pontos e cinco
assistências, Carl Herrera foi o destaque do banco com 12 pontos.
Agora a sétima partida somente seria jogada daqui
três dias, quarta-feira, Jeff Van Gundy, um dos assistentes de Riley em 1994,
disse que não havia mais nada a ser feito, somente restava a eles esperar.
Segundo Herb Williams, Pat Riley cogitou retornar a
Nova York após o sexto jogo, mas no fim decidiu ficar no Texas.
Se antes tudo apontava para os Knicks vencendo o
título, tudo mudou como conta o GM Ernie Grunfeld:
“Quando fomos lá para o jogo 6, todos estavam quietos. Havia um silêncio na arena e eu me sentia confiante nas nossas chances de vencer. Então Olajuwon bloqueia o arremesso de Starks no estouro e eu não sei como ele conseguiu. Mas é isso que grandes jogadores fazem. E então a sensação para o jogo sete era completamente diferente. Havia uma excitação no local. E no jogo sete, o time da casa tem uma grande chance de vencer.”
O sétimo jogo foi totalmente anticlimático, os
Knicks ficaram atrás do placar a partida inteira e, para aumentar a agonia, a
maior desvantagem era de apenas oito pontos, mas parecia que era 20.
Starks, que havia carregado o ataque do time n jogo
anterior, nem lembrava o desempenho do jogo anterior. Era erro atrás de erro.
Ele não parava de arremessar, mas a bola não entrava. No final, a estatística
que até hoje assombra o agora ex-jogador: 2-18 arremessos convertidos, 0-11 de
três pontos.
Starks sobre a sétima partida:
“Penso muito sobre o jogo 7, como me preparei e como faria as coisas de outra maneira. Você revê todas essas coisas na sua mente. Mas sempre será assim comigo. Eu sei disso, tenho que aceitar e seguir em frente com a minha vida.”
Pat Riley sobre a decisão de manter Starks em
quadra:
“Muitos dos que me criticaram por deixar John no jogo até hoje não reconhecem que nunca chegaríamos ao sétimo jogo se não fosse por John. Nos jogos 4 e 5 ele teve performances de dígitos duplos no último quarto. No jogo 5, se ele não marcasse 11 pontos no quarto período não teríamos vencido a partida. No jogo6 ele teve 16 pontos no último período. Ele realmente estava jogando bem nos quartos períodos, acertando arremessos e fazendo grandes jogadas.”
A principal crítica foi que o Knicks contava com o
veterano Rolando Blackman no banco.
“Foi desolador, não posso dizer que não foi,”
relembra Blackman. “Naquele ano eu estava saudável. No primeiro ano eu não
estava saudável, mas eu fiz uma cirurgia no verão. Mas foi uma situação onde o
treinador Riley põe em quadra os jogadores que ele já estava usando antes. E
eram John e Hubert (Davis) na posição dois. Não havia nada que pudesse fazer,
exceto ser um bom soldado, o que eu fui. Eu me certifiquei da minha liderança,
mesmo não tendo a chance de jogar e ser parte do que estava acontecendo. Apesar
de estar com o coração partido sempre que jogávamos contra esses times que eu
já havia destruído anteriormente, principalmente Houston.”
“Eu não iria desistir dele (John), porque John é um
desses jogadores como Reggie Miller,” disse Riley. “Ele pode ir muito mal por
três quartos e então começar a acertar tudo. Coloquei Greg Anthony um pouco e
conseguimos diminuir a diferença. E essa foi a única vez que eu disse a mim
mesmo durante o decorrer do jogo, talvez eu devesse jogar com Derek e Greg
porque eles estão muito bem. Decidi retornar com John. Não me arrependo, mas
partindo de uma perspectiva de pensamento, porque ele estava tão mal, talvez se
eu tivesse deixado mais um minuto ou dois, algo poderia ter acontecido. Mas
John era o meu cara na época e é uma pena que ele teve um jogo tão ruim na
sétima partida.”
No final, os Rockets venceram por 90 a 84 e
conquistavam o primeiro título da franquia na NBA. Olajuwon foi o MVP das
Finais e “vingava” a derrota de 10 anos atrás para Ewing.
Depois da partida, Harper lembra de estar sentado
no vestiário com Riley segurando uma cerveja e chorando. O treinador também
tinha lágrimas em seus olhos.
Starks ficou 45 minutos no chuveiro teve que ser
retirado porque não saía, Herb Williams tomou seu banho e voltou a pé para o
hotel, não quis ir no ônibus com o time.
Os Knicks ficaram no hotel em Houston mais uma
noite, mas ninguém conseguiu dormir.
Chegava ao fim uma das mais empolgantes, cansativas
e difíceis pós-temporadas da história da franquia. Um time que cativou uma
cidade inteira, foram semanas intensas na Big
Apple. Um recorde de 25 partidas de playoff que durou até 2008, quebrado
pelo Boston Celtics (só fica um lembrete:
em 1994 a primeira rodada era melhor de cinco jogos).
No final, Patrick Ewing resumiu o sentimento que
ficou após o término da temporada:
“Tudo que eu sei foi que perdemos. E é isso.”
Informações
e fotos obtidas do especial “The Forgotten Finals” do site da CBS
Sports e dos livros: “100 Things
Knicks Fans Should Know & Do Before They Die” de Alan Hahn, “Garden Glory: An Oral History of the New
York Knicks” de Dennis D'Agostino e “The
New York Knicks: The Official Fiftieth Anniversary Celebration” de George
Kalinsky.
E com este post
chega ao fim a série relembrando os Playoffs e as Finais de 1994. Espero que
tenham gostado, peço desculpas se teve algum erro de digitação, ortografia ou
concordância.
Foi muito
divertido voltar nessa época e ver como a NBA mudou, mas também ver que embora
muitos torcedores sejam obcecados pelos anos obscuros dos Knicks, tivemos um
time muito vitorioso e que jogava com coração e alma, uma pena que o final não
foi feliz.
Os posts da
seção Knickstória
não terminaram, em breve eles estão de volta, agradeço a audiência de todos
vocês, espero que num futuro não muito distante eu esteja escrevendo aqui sobre
o tão sonhado título!
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