domingo, 22 de junho de 2014

Knickstória: As Finais de 1994 (Parte 4): O Sonho Virou Pesadelo


Uma vitória.

Uma vitória foi a diferença entre as campanhas de Knicks e Rockets na temporada regular.

Por uma vitória, o time texano ficou com um mando de quadra nas Finais.

Uma vitória era o que separava os Knicks do tão sonhado título, título que não vinha desde 1973.

Depois de três partidas em Nova York, a série retorna a Houston com os Knicks liderando por três a dois.

O armador Derek Harper conta que o voo para Houston “não foi quieto, mas não foi barulhento também. Acho que todos entendiam a importância do que tentávamos fazer. Era como um voo a trabalho. Todos seguiam sua rotina habitual, mas ao mesmo tempo acho que todos sabiam o que estava em jogo.”

Na noite de sábado para domingo, Dave Checketts, presidente do time, tem um sonho:
“Eu não costumo lembrar dos meus sonhos, mas esse foi nítido. Estava no vestiário em Houston no meu sonho, com um casaco azul que usei por um tempo e estava tomando um banho de champanhe. Então eu me certifiquei que utilizaria esse casaco para o sexto jogo.”

Na tarde domingo, ao sair do ônibus para entrar no The Summit, algo chamou a atenção de Harper:
“Descendo do ônibus, eu vi os caras com duas caixas de champanhe. E eu estou pensando que é isso. (...) Eu passei pela porta que dava em um grande corredor e perguntei o que era, disseram ‘É o champanhe.’ Eu respondi ‘What the fuck?’ (não precisa de tradução, certo?) – perdoe o meu francês. Então isso era para nós quando vencermos o campeonato. Ninguém no mundo poderia me dizer que não iríamos vencer o jogo.”

O responsável pelo champanhe foi o preparador físico Mike Saunders, ele teve que ser criativo porque uma lei do Texas impedia que ele levasse bebidas alcoólicas para uma arena.
“Tentei explicar que não ia levar para beber durante a partida, que era para uma celebração após o jogo, mas eles foram inflexíveis. Também trouxe champanhe sem álcool. Para quem não bebe também poder celebrar.
O que aconteceu foi que eu tive que dar o champanhe para o pessoal da arena e eles venderam de volta para mim, para ficar ‘oficial’. Tivemos que pagar uma taxa. Deixei em duas grandes bolsas de equipamentos.”

Enquanto isso, executivos dos Knicks se reuniam com a executivos da NBA e da NBC para acertarem a logística para a apresentação do troféu, ela seria em uma sala adjacente ao vestiário dos Knicks. O palanque, bandeiras, câmeras estavam ajustados. Checketts, Grunfeld e Riley tinham seus locais marcados no palanque para receber o troféu de David Stern.

Pat Riley estava focado em terminar a série na sexta partida:
“Eu fiz questão de dizer a eles que não era para deixarem ir a uma sétima partida. Disse que a nossa chance de ganhar o título era agora. Finalmente chegamos ao jogo que permitiria você vencer o campeonato e não quero que você pense que é um presente. (…) Não deixe ir para a sétima partida porque tudo pode acontecer e geralmente o mando de quadra influencia.”


Vamos ao sexto jogo. Os Knicks abrem 15 a oito no primeiro quarto, mas os Rockets logo se recuperaram e passaram a frente no placar. No segundo quarto os Knicks marcaram apenas 15 pontos e no intervalo perdiam por 10 pontos.

No final do terceiro quarto a diferença caiu para três pontos, mas os Rockets logo aumentaram para nove pontos, 72 a 63 a 9:18 para o final do último quarto.

A 3:18 para o fim, Kenny Smith converte um arremesso de três pontos e o placar é 84 a 77 para Houston. Starks converteu uma bandeja a 1:33 e diminui a diferença para cinco pontos. Em seguida ele força um erro de Verno Maxwell e a posse é dos Knicks. Ele converte uma cesta de três pontos a 1:17 e a diferença era de apenas dois pontos, 84 a 82.

Hakeem Olajuwon converteu dois lances livre para colocar Houston quatro pontos na frente a 39,3 segundos. Na sequência, Anthony Mason converteu um arremesso e o placar era 86 a 84 a 32 segundos.

No ataque dos Rockets, Kenny Smith erra e o rebote fica com New York, tempo pedido a 7,6 segundos do fim.


Os Rockets não haviam ainda atingido o limite de faltas pessoais no período e Robert Horry fez a falta logo na reposição de bola dos Knicks com 5,5 segundos para terminar.

Na sequência, os Knicks fizeram a mesma jogada que foi executada no sétimo jogo contra Indiana nas Finais de Conferência, pick-and-roll com Starks e Patrick Ewing.

Charles Oakley fez a reposição para Starks, que foi para a esquerda e passou pelo corta-luz de Ewing, deixando Maxwell para trás. Olajuwon, que estava com Ewing decide ir para linha de três pontos, deixando o pivô dos Knicks sem marcação na linha de lances livres.

Starks seguiu para a esquerda com Olajuwon marcando, mas ao contrário da partida contra os Pacers duas semanas antes, ele decide arremessar dali mesmo, em frente ao trienador Rudy Tomjanovich, e assim dar o título aos Knicks.


Mas por pouco, muito pouco, Olajuwon conseguiu interferir no arremesso e a bola acabou nas mãos de Otis Thorpe.


O cronômetro zerou e os Rockets venceram. 86 a 84. Série empatada.

John Starks terminou com 27 pontos, 15 nos últimos 9:11 do último quarto, 9-18 arremessos de quadra convertidos, 5-9 de três pontos e oito assistências, carregou o time nas costas, foram 5-7 arremessos convertidos no último quarto, 3-4 de três pontos, o que único que ele não acertou foi por causa de Olajuwon.

Ewing, depois do excelente quinto jogo, teve uma péssima partida no ataque, acertando 6-20 arremessos, 17 pontos, mas compensou com 15 rebotes e quatro bloqueios. Oakley teve 12 pontos e nove rebotes, Smith terminou com 11 pontos e Harper teve 10 pontos e 10 assistências.

Olajuwon terminou com 30 pontos, 10 rebotes e quatro bloqueios, incluindo o que garantiu a vitória dos Rockets. Horry terminou com 11 pontos e nove rebotes, Maxwell teve 10 pontos e cinco assistências, Carl Herrera foi o destaque do banco com 12 pontos.

Agora a sétima partida somente seria jogada daqui três dias, quarta-feira, Jeff Van Gundy, um dos assistentes de Riley em 1994, disse que não havia mais nada a ser feito, somente restava a eles esperar.

Segundo Herb Williams, Pat Riley cogitou retornar a Nova York após o sexto jogo, mas no fim decidiu ficar no Texas.

Se antes tudo apontava para os Knicks vencendo o título, tudo mudou como conta o GM Ernie Grunfeld:
“Quando fomos lá para o jogo 6, todos estavam quietos. Havia um silêncio na arena e eu me sentia confiante nas nossas chances de vencer. Então Olajuwon bloqueia o arremesso de Starks no estouro e eu não sei como ele conseguiu. Mas é isso que grandes jogadores fazem. E então a sensação para o jogo sete era completamente diferente. Havia uma excitação no local. E no jogo sete, o time da casa tem uma grande chance de vencer.”


O sétimo jogo foi totalmente anticlimático, os Knicks ficaram atrás do placar a partida inteira e, para aumentar a agonia, a maior desvantagem era de apenas oito pontos, mas parecia que era 20.

Starks, que havia carregado o ataque do time n jogo anterior, nem lembrava o desempenho do jogo anterior. Era erro atrás de erro. Ele não parava de arremessar, mas a bola não entrava. No final, a estatística que até hoje assombra o agora ex-jogador: 2-18 arremessos convertidos, 0-11 de três pontos.


Starks sobre a sétima partida:
“Penso muito sobre o jogo 7, como me preparei e como faria as coisas de outra maneira. Você revê todas essas coisas na sua mente. Mas sempre será assim comigo. Eu sei disso, tenho que aceitar e seguir em frente com a minha vida.”


Pat Riley sobre a decisão de manter Starks em quadra:
“Muitos dos que me criticaram por deixar John no jogo até hoje não reconhecem que nunca chegaríamos ao sétimo jogo se não fosse por John. Nos jogos 4 e 5 ele teve performances de dígitos duplos no último quarto. No jogo 5, se ele não marcasse 11 pontos no quarto período não teríamos vencido a partida. No jogo6 ele teve 16 pontos no último período. Ele realmente estava jogando bem nos quartos períodos, acertando arremessos e fazendo grandes jogadas.”

A principal crítica foi que o Knicks contava com o veterano Rolando Blackman no banco.


“Foi desolador, não posso dizer que não foi,” relembra Blackman. “Naquele ano eu estava saudável. No primeiro ano eu não estava saudável, mas eu fiz uma cirurgia no verão. Mas foi uma situação onde o treinador Riley põe em quadra os jogadores que ele já estava usando antes. E eram John e Hubert (Davis) na posição dois. Não havia nada que pudesse fazer, exceto ser um bom soldado, o que eu fui. Eu me certifiquei da minha liderança, mesmo não tendo a chance de jogar e ser parte do que estava acontecendo. Apesar de estar com o coração partido sempre que jogávamos contra esses times que eu já havia destruído anteriormente, principalmente Houston.”

“Eu não iria desistir dele (John), porque John é um desses jogadores como Reggie Miller,” disse Riley. “Ele pode ir muito mal por três quartos e então começar a acertar tudo. Coloquei Greg Anthony um pouco e conseguimos diminuir a diferença. E essa foi a única vez que eu disse a mim mesmo durante o decorrer do jogo, talvez eu devesse jogar com Derek e Greg porque eles estão muito bem. Decidi retornar com John. Não me arrependo, mas partindo de uma perspectiva de pensamento, porque ele estava tão mal, talvez se eu tivesse deixado mais um minuto ou dois, algo poderia ter acontecido. Mas John era o meu cara na época e é uma pena que ele teve um jogo tão ruim na sétima partida.”

No final, os Rockets venceram por 90 a 84 e conquistavam o primeiro título da franquia na NBA. Olajuwon foi o MVP das Finais e “vingava” a derrota de 10 anos atrás para Ewing.

Depois da partida, Harper lembra de estar sentado no vestiário com Riley segurando uma cerveja e chorando. O treinador também tinha lágrimas em seus olhos.

Starks ficou 45 minutos no chuveiro teve que ser retirado porque não saía, Herb Williams tomou seu banho e voltou a pé para o hotel, não quis ir no ônibus com o time.

Os Knicks ficaram no hotel em Houston mais uma noite, mas ninguém conseguiu dormir.

Chegava ao fim uma das mais empolgantes, cansativas e difíceis pós-temporadas da história da franquia. Um time que cativou uma cidade inteira, foram semanas intensas na Big Apple. Um recorde de 25 partidas de playoff que durou até 2008, quebrado pelo Boston Celtics (só fica um lembrete: em 1994 a primeira rodada era melhor de cinco jogos).


No final, Patrick Ewing resumiu o sentimento que ficou após o término da temporada:
“Tudo que eu sei foi que perdemos. E é isso.”


Informações e fotos obtidas do especial “The Forgotten Finals” do site da CBS Sports e dos livros: “100 Things Knicks Fans Should Know & Do Before They Die” de Alan Hahn, “Garden Glory: An Oral History of the New York Knicks” de Dennis D'Agostino e “The New York Knicks: The Official Fiftieth Anniversary Celebration” de George Kalinsky.


E com este post chega ao fim a série relembrando os Playoffs e as Finais de 1994. Espero que tenham gostado, peço desculpas se teve algum erro de digitação, ortografia ou concordância.

Foi muito divertido voltar nessa época e ver como a NBA mudou, mas também ver que embora muitos torcedores sejam obcecados pelos anos obscuros dos Knicks, tivemos um time muito vitorioso e que jogava com coração e alma, uma pena que o final não foi feliz.

Os posts da seção Knickstória não terminaram, em breve eles estão de volta, agradeço a audiência de todos vocês, espero que num futuro não muito distante eu esteja escrevendo aqui sobre o tão sonhado título!

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