sábado, 7 de setembro de 2013

Recordar é Viver (Parte 4): Uma Temporada com Muito "Drama"



Vamos para a quarta parte dos posts relembrando meus primeiros anos como torcedor do New York Knicks e acompanhando a NBA. A primeira parte pode ser lida aqui, a segunda aqui e a terceira aqui. A parte final pode ser lida aqui.

Como é tradição entre os esperançosos torcedores do Knicks, todos estamos na expectativa para mais uma temporada...

No dia 25 de junho o Knicks choca seus torcedores com uma troca mandando Charles Oakley (um dos meus favoritos de todos os tempos da franquia) junto com Sean Marks (escolha da segunda rodada do Draft de 98) para o Toronto Raptors por Marcus Camby.

No dia 13 de novembro de 1998 uma notícia triste para a torcida, Red Holzman, o técnico mais vitorioso da franquia e comandante de dois dos maiores tiems da história da NBA, 1970 e 1973, perde a batalha contra a leucemia e falece em Nova York.

Enquanto isso, os jogadores e os donos dos times não conseguiram a chegar um acordo sobre o novo CBA, que é o “regimento” da NBA, neste post do Caio ele explica algumas regras do atual CBA referentes aos salários e contratos dos jogadores.

Assim como foi em 2011 muitas reuniões aconteciam e nada era acertado. Jogos cancelados, o tempo ia passando e nada da temporada 98-99 começar.

Para piorar a coisa para os Knickerbockers o presidente da associação dos jogadores em 1998 era Patrick Ewing, então nada de se preparar para a temporada. Naquela época Ewing já tinha 36 anos e muitos duvidavam se o jogador ainda tinha potencial para brigar pelo tão sonhado título, ainda mais depois de perder a maior parte da temporada 1997-98 por causa da lesão do pulso.

Da esquerda para direita: Glen Rice, Alan Houston, Dominique Wilkins, Alonzo Mourning e Patrick Ewing.

Depois de muitas reuniões e partidas canceladas em janeiro de 1999 finalmente jogadores e donos chegaram a um acordo em tempo de começar uma temporada de 50 jogos em fevereiro.

E assim que os times estão liberados para fazer negociações, mais um dos meus favoritos é trocado: John Starks vai para Golden State com Terry Cummings e Chris Mills. Em troca o Knicks recebe Latrell Sprewell.

Sprewell foi o grande vilão da temporada 1997-98, ele jogou apenas 14 partidas naquela temporada pois foi suspenso pelo restante da temporada após estrangular o treinador do Warriors, P.J. Carlezimo. O Miami Heat também tinha interesse no jogador, mas no final Spree decidiu ir para Nova York.


Para compensar a ausência de Oakley, o Knicks contratou Kurt Thomas uma dia após a troca por Sprewell.

Do time finalista em 1994 o único remanescente era Patrick Ewing. Mas após passar meses em reuniões a última coisa que Patrick precisava era jogar basquete. Fora de forma, mais velho e com um elenco modificado as coisas não começaram fáceis para o pivô em uma temporada na qual em alguns pontos ele precisaria jogar três jogos em três noites seguintes.

Sem um training camp apropriado, Van Gundy não teve tempo para ajustar o time às novas contratações, Camby estava perdido e o treinador se recusava a utilizá-lo em quadra, havia dúvidas se Sprewell e Houston poderiam jogar juntos. O time corria o risco de ficar fora dos playoffs pela primeira vez em mais de uma década.

Para os torcedores mais novos ou os piadistas de plantão que só sabem lembrar da última década, naquela época a possibilidade do Knicks não se classificar aos playoffs era como uma grande tragédia.


Ewing e Sprewell perderam várias partidas por causa de lesões. Na noite de 23 de março de 1999 o Knicks marca apenas cinco pontos no segundo quarto contra o Bulls, o pior time da temporada 98-99 no United Center, uma derrota desmoralizante, parecia que o time não iria para os playoffs.

Quase um mês depois, no dia 19 de abril de 1999 após uma derrota para Philadelphia por 72 a 67, a quarta seguida, o Knicks atinge a marca de 21 vitórias e 21 derrotas, fora dos oito primeiros classificados do Leste.

O drama na big Apple só aumentava quando vazou para a imprensa que Dave Checketts, o presidente do Knicks na época, lidava com uma crise entre o GM do time, Ernie Grunfeld, e o treinador Jeff Van Gundy.

Ernie Grunfeld e Van Gundy

James Dolan (sim, ele mesmo) dá um ultimato a Checketts: Grunfeld ou Van Gundy, um dos dois tem que sair. Checketts não conseguiu tomar uma decisão, ele então foi ordenado a remover Grunfeld do cargo.

Era o fim de uma parceria de sucesso que levou o time a cinco temporadas com mais de 50 vitórias, um título de Divisão, duas Finais de Conferência e uma Final da NBA.

Em meio a esse drama, o Knicks está em Miami para um jogo de domingo à tarde, Patrick Ewing não pôde jogar.

O Miami estava em uma situação completamente oposta ao Knicks, 29 vitórias e 14 derrotas, campeão da Divisão do Atlântico pelo terceiro ano seguido. Parecia que o time de Pat Riley iria com tudo para o título.

Após acabar com a sequência de derrotas vencendo Charlotte no MSG, adversário direto na briga pelos playoffs, o Knicks tinha 22  vitórias e 21 derrotas, mesmas campanhas de Charlotte e Toronto, logo a partida é de vida ou morte para os Knickerbockers.

Como já foi ressaltado, Van Gundy não colocava Marcus Camby em quadra, achava que o jogador era muito "soft" e na partida em Miami começou com Chris Dudley no lugar do lesionado Ewing. Na outra partida em Miami no mês anterior, Camby assistiu o jogo inteiro do banco.

As coisas não começaram nada bem com Alonzo Mourning dominando no garrafão. Van Gundy teve que ceder e colocou Camby em quadra. Kurt Thomas marcava Zo, mas o pivô, tendo uma de suas melhores temporada (chegou a ser considerado para MVP) seguia matando o Knicks, marcando 27 pontos nos três primeiros quartos.

Alan Houston estava tendo uma tarde para esquecer, acertou apenas dois de 10 arremessos nos três quartos, o Knicks perdia por 20 pontos no terceiro quarto.

No último quarto Larry Johnson e Marcus Camby lideraram a reação do time marcando nove pontos cada no período derradeiro.

Após uma cesta de três pontos de Johnson, o placar estava empatado a um minuto do fim, 77 a 77. Na posse do Heat, Tim Hardaway acertou uma de três pontos, mais uma da lista de várias que faziam torcedores do Knicks quase morrer do coração.

Desde a temporada 97-98 derrotas por poucos de diferença haviam se tornado rotina nos jogos do Knicks, parecia que mais uma vez a gente ia ficar no "quase..." O final do jogo anterior contra o Heat em Miami citado acima foi com Ewing errando o arremesso que poderia dar a vitória ao Knicks na prorrogação.

A bola estava com Houston e ele parte para cesta, mas desta vez ele passou para Camby que fez uma bela enterrada e ainda levou uma falta de Jamal Mashburn. Após converter o lance livre a partida estava novamente empatada.

Hardaway arremessou de três novamente, mas desta vez ele não acertou e Chris Childs ficou com o rebote. Ele sofreu uma falta de seu ex-companheiro de New Jersey, P.J. Brown, e converteu os lances livres. Knicks na frente 82 a 80!

Foram 11 pontos do Knicks contra apenas dois de Miami nos últimos minutos.

Apesar de Camby ter provado a Van Gundy que ele pode jogar contra Miami, o treinador preferiu substituí-lo por Dudley para a última jogada, ele acreditava que Riley iria utilizar Mourning no post, Kurt Thomas estava fora da partida com seis faltas. Ewing foi em sua direção enquanto Camby se dirigia ao banco e disse ao jogador para levar isso como uma desconsideração.



Como Van Gundy previa, Miami foi para o post com Mourning, Dudley foi eficiente na marcaçào e Zo teve que passar a bola, o passe foi na direção de Mashburn, mas a bola bateu na perna do jogador, Childs lutou pela posse e ao final o Knicks conseguiu a vitória de virada!

Foi o início da recuperação, após uma vitória contra o Celtics do novato Paul Pierce, na noite de 3 de maio, com transmissão para o Brasil pela TNT, o Knicks finalmente garante a vaga nos playoffs.

O último jogo da temporada regular era contra o Miami no Garden e também contava com a transmissão da TNT para o Brasil.

Uma das noites mais bizarras na NBA até então...

A situação era a seguinte: o Miami havia garantido o primeiro lugar no Leste após vencer o Atlanta na noite anterior (o Heat tinha a vantagem do desempate contra Indiana caso os dois times terminassem com campanhas iguais).

Na parte de baixo da tabela, Milwaukee estava em sexto, dois jogos a frente do Knicks e Philadelphia estava em sétimo, um jogo a frente do Knicks na classificação.

Se o Knicks vencesse a partida contra Miami e o Sixers perdesse para Detroit, o New York subiria para sétimo porque os dois times teriam 27 vitórias e 21 derrotas e o Knicks vence o desempate contra o time de Allen Iverson.

O Detroit por sua vez estava em quinto na Conferência e caso ganhasse de Philadelphia poderia roubar o quarto lugar de Atlanta.

E caso Philadelphia vencesse e o Bucks perdesse, então o Sixers estaria em sexto pois tinha vantagem no desempate.

Entendeu?

Para que não se lembra o Knicks havia eliminado o Heat na temporada anterior e a vitória de virada na Flórida aumentou a confiança do time, havia um sentimento que, não importa a situação de lesões, o Knicks conseguiria vencer o Heat. Já contra o Pacers, segundo colocado no Leste, a confiança não era a mesma, principalmente após a eliminação na temporada anterior.

Logo, para o Knicks seria mais vantagem perder a partida e permanecer em oitavo. Mas pelo jeito Pat Riley também não estava muito confiante em enfrentar o Knicks, basta as escalações dos times para a partida:

Miami: Rex Walters, Voshon Lenard, Jamal Mashburn, P.J. Brown, Duane Causwell.

New York: Charlie Ward, Alan Houston, Larry Johnson, Kurt Thomas, Chris Dudley.

Se você é torcedor do Heat e não precisa procurar no Google quem são os jogadores escalados por Pat Riley, meus parabéns, você não é um bandwagon!

Por mais que possa parecer inacreditável para os atuais torcedores do Miami Heat, o Miami queria que o Knicks terminasse em sétimo, enquanto que Van Gundy e Cia. queriam ficar em oitavo pois acreditavam que tinham mais chance de eliminar Miami.

Tim Hardaway, Alonzo Mourning e Dan Majerle não jogaram, P.J. Brown só teve 15 minutos de jogo.

Pelo Knicks Patrick Ewing e Chris Childs foram poupados. Van Gundy colocou Houston e Johnson do banco durante a partida para a entrada de David Wingate e Rick Brunson que costumavam jogar apenas no garbage time.

Jeff Van Gundy mandou desligar o placar eletrônico do Madison Square Garden para que os jogadores não ficassem distraídos pelo andamento das outras partidas, mas ele foi informado que Detroit vencia Philadelphia por dois pontos a dois segundos do fim e a bola era dos Pistons. Van Gundy manteve a compostura e fingiu não se importar.

A transmissão da TNT saiu do jogo do Knicks que estava... meio chato... e passou a mostrar o final de Pistons vs Sixers. A bola é do Pistons, mas Iverson roubou a posse de bola e com oito segundos para o final ele empata a partida!

Antes do último quarto terminar o Van Gundy e sua equipe recebem a notícia que Philadelphia venceu a partida na prorrogação, assim o time foi com tudo para cima do Miami a venceu a partida por 101 a 88.

“A partida que ninguém queria vencer”


Eu ia escrever um post único sobre 1999, mas foi ficando grande, então resolvi dividir em duas partes, como foi a temporada 97-98.

Então no próximo post: a inesperada jornada para as Finais da NBA.

(Informações dos jogos contra o Heat obtidas do Knickerblogger.net)

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